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O ensino remoto durante a pandemia



Pesquisadores disseram que 90% dos professores não tinham conhecimento sobre trabalhar com aulas on-line e que 42% dos entrevistados afirmaram seguir sem treinamento, aprendendo tudo por conta própria. Para 21%, foi considerado “difícil” ou “muito difícil” lidar com tecnologias digitais, durante o período pandêmico.


Com relação ao aproveitamento escolar, metade dos estudantes ficou no mesmo estágio de aprendizado ou mesmo regrediram, sendo mais sentida com relação à primeira infância.


Por Alexandre Assaf, 14.01.23.

Toda dia, Luana*, professora de educação fundamental, de uma escola da Vila Matilde em São Paulo/SP, acorda às 5h diariamente, para elaborar o plano de aula e corrigir as tarefas e as diversas dúvidas apresentadas pelos alunos nas plataformas digitais de ensino.


Esse caso ocorre na maior e mais rica cidade do país, mas ilustra com clareza os desafios enfrentados por escolas, professores, alunos e famílias brasileiras durante o isolamento social em virtude da pandemia da covid-19, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.


Falhas de Estratégia


Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) ressalta que 90% dos professores não tinham conhecimento sobre trabalhar com aulas on-line e que 42% dos entrevistados afirmaram seguir sem treinamento, aprendendo tudo por conta própria. Para 21%, foi considerado “difícil” ou “muito difícil” lidar com tecnologias digitais.


A pesquisa supracitada também aponta que:


• 82% dos professores deram aulas dentro de casa;
• 82% dos docentes disseram que as horas de trabalho aumentaram;
•84% dos professores afirmam que o envolvimento dos alunos diminuiu um pouco ou diminuiu drasticamente durante a pandemia;
• 80% dos entrevistados afirmam que a principal dificuldade dos estudantes é a falta de acesso à internet e computadores; seguida pela dificuldade das famílias em apoiar os estudantes (74%); a falta de motivação dos alunos (53%) e o desconhecimento dos alunos em usar recursos tecnológicos (38%).

Desgaste emocional


O estado emocional dos professores também foi colocado à prova: 69% declararam sentir medo e insegurança por não saber como seria o retorno à normalidade e 50% declaram, de maneira geral, sentir medo em relação ao futuro.


A rotina do professor foi afetada, de acordo com pesquisa feita pela Fundação Carlos Chagas – Departamento de Pesquisas Educacionais, nas datas de 30 de abril e 10 de maio de 2020 – no período mais crítico do ensino remoto – onde foram convidados a responder os profissionais da rede pública e privada em torno de 14.285 (quatorze mil, duzentos e oitenta e cinco) professores de ambos os sexos de todas as 27 unidades da Federação.


Nova rotina e regressão escolar


Já o levantamento feito pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) sobre as atividades remotas na educação durante a pandemia mostra que essa adaptação não tem sido fácil, pois 67% dos alunos se queixam de dificuldades em estabelecer e organizar uma rotina diária de estudos.


O estudo “Perda de Aprendizagem na Pandemia”18, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, estima que, no ensino remoto, os estudantes aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, em comparação com o que ocorreria nas aulas presenciais.


Em muitos casos, conforme observa a especialista Fernanda Cassandri Colucci, o que ocorreu foi a “adoção de tecnologias sem a realização de um planejamento pedagógico, apenas adaptando o conteúdo, antes veiculado em sala de aula, para o ambiente on-line, sem maiores preocupações quanto ao efetivo aprendizado dos estudantes, em face do novo meio – virtual – ora empregado”.


Para corroborar com o relato da especialista, metade dos estudantes ficou no mesmo estágio de aprendizado ou desaprendeu o que sabia segundo um estudo da Fundação Lemann:



E, em relação à jornada de trabalho, como a de nossa personagem Luana, os professores tiveram sua jornada estendida, face o tempo à disposição dos alunos para sanarem eventuais dúvidas pedagógicas e até de “sistema” para a postagem de atividades.



Em face desta nova realidade, explica a pesquisadora Renata Morello Malvestio, “o preparo de uma aula remota é bem diferente da prática presencial de sala de aula, uma vez que a dinâmica de interação com os alunos é outra”. Além disso, mudam também a forma de comunicação com a família do estudante. Sendo assim, o conhecimento e o domínio das tecnologias educacionais foram imprescindíveis”.


A nova situação imposta implicou em desgaste não apenas aos professores, mas também as famílias. Isto porque os familiares se viram sobrecarregados com essa nova demanda combinada ao trabalho e aos afazeres do lar e, de outro, as escolas passaram a ser mais cobradas por pais que agora têm melhor entendimento sobre a aprendizagem de seus filhos. Vejamos, o levantamento feito pela Fundação Carlos Chagas:


No contexto geral, dissertam as pesquisadoras Fernanda e Renata, “é perceptível que todos os estudantes sofreram os impactos da pandemia. Porém, as crianças na primeira infância foram as que mais sofreram. Isto porque a carência de aprendizagem e interação acarretam um comprometimento no seu desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social, podendo gerar adolescentes/adultos inseguros ou com capacidades limitadas”.


De acordo com as estudiosas houve prejuízo a grande parte das crianças da Educação Infantil, uma vez que o brincar e o interagir torna-se de extrema importância para a realização de conexões neurais e desenvolvimento da cognição. “Sem o lúdico e a linguagem, desenvolvida através da interação, a criança não consegue aprender a responder aos estímulos de forma rápida ou estabelecer um contato desejável com o mundo ao seu redor” conclui a pedagoga Fernanda.



*O nome da professora ouvida pela reportagem foi trocado para preservar a sua identidade.

*Fernanda Cassandri Colucci é advogada, formada em pedagogia e pesquisadora acadêmica.

*Renata Morello Malvestio é advogada, formada em pedagogia e pesquisadora acadêmica.



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