Qual é a importância de promover congressos na era da inteligência artificial?
- Contemporâneo
- há 7 dias
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“Estamos inundados de informações e famintos de sabedoria" Zygmunt Bauman.
Podemos dizer que conhecer é ter noção de algo. Assim, o conhecimento tem início com a informação sobre determinado assunto ou situação. Podemos dizer também que o conhecimento se inicia pelo vivenciar, pela curiosidade e observação.
A observação permite produzir conhecimento. Ele tem origem, desse modo, na curiosidade, na vontade de ir além do que se sabe, do que se está vendo ou daquilo com o que se está tomando contato. Trata‑se de desvendar, decifrar, decodificar.
Segundo Zanella[1] a ciência é a produção humana na sua atividade de conhecer e refletir a respeito do mundo e dos fenômenos da natureza.
A ciência é o fruto da reflexão de um sujeito (quem busca saber) sobre um objeto (o alvo dessa reflexão).
A ciência desenvolveu‑se a partir de perguntas feitas pelos homens em relação ao que os cercava, cuja natureza e funcionamento eles tinham interesse em entender. O conhecimento é uma adequação do sujeito ao objeto.
A ciência se apresenta como uma forma uniforme de achar alguma razão na observação dos fatos.
O conhecimento científico estabelece uma ruptura com o senso comum, ao exigir constante crítica do passado.
O conhecimento científico resulta de investigação metódica e sistemática da realidade. Utilizando‑se do intelecto, o homem procura respostas para as causas dos fatos; a partir de classificações, comparações e análises – enfim, de métodos –, pode chegar a leis gerais que os regem.
O processo de investigação, descoberta e expansão do conhecimento faz do ser humano sujeito ativo, critico e reflexivo em relação a fatos e objetos.
A inteligência artificial (IA) virou símbolo de inovação, mas pouca gente entendeu: ela não é uma máquina de respostas. É um espelho de perguntas. Porque a IA é fluente em tudo, menos em contexto. Ela entende tudo, menos nuance.
Quem tem repertório, vocabulário e maturidade apresenta vantagem competitiva frente aos demais. Esse filtro invisível é o que separa um prompt qualquer de uma estratégia transformadora.
A pergunta certa sempre vale mais que a resposta brilhante. Como disse o renomado físico Richard Feynman sobre perguntas e conhecimento “prefiro ter perguntas que não podem ser respondidas do que respostas que não podem ser questionadas" E agora, com IA, o seu valor foi exponenciado.
Em tempos modernos marcados pela velocidade da informação, decisões apressadas, discursos rasos e uma formação cada vez mais técnica e menos reflexiva, resgatar o valor do pensamento crítico tornou-se urgente.
Conhecimento não é sinônimo de acúmulo de informações, mas de construção de pensamento. É a disposição de dialogar com as áreas do conhecimento e cultivar uma formação intelectual sólida e multidisciplinar visando o aprofundamento da realidade dos fatos.
O verdadeiro equilíbrio exige prudência, abertura ao contraditório e poder de retórica diante das narrativas fomentadas pelo fenômeno da pós-verdade[2] das redes.
Refletir criticamente é romper com o conformismo; é ter coragem para questionar ideias feitas, pré-moldadas e discenir o que é verdadeiramente científico do que apenas parece ser.
Não bastar ter a informação, é preciso saber o que fazer com ela. Os criadores de conhecimento são capazes de criar, transformar, combinar e aplicar o conhecimento para produzir riquezas que provenham não somente de atividades intensivas em capital ou trabalho, mas também de natureza intelectual.
Não somos maquinas utilizáveis. Cada indivíduo é uma personalidade produtiva e protagonista do progresso material que atendam aos anseios e necessidades comuns da nova economia.
Não há mais espaço para arrogância e egoísmo intelectual. O conhecimento não pode ficar parado: deve ser constantemente aplicado, aperfeiçoado e compartilhado, de modo a gerar valor as outras pessoas, renovando-se o seu ciclo.
Partindo dessa premissa, a sabedoria está no meio, não comportando simplificações, maniqueísmo e parcialidade, porque a ciência não cabe em manchetes nem em narrativas binárias.
O cientista e o profissional contemporâneo não são personagens de respostas decoradas, “bravatas”, mas da inquietação contínua por compreender melhor o mundo, o outro e a própria realidade dos fatos.
O fato de um determinado conhecimento ser científico não o torna uma verdade definitiva, tampouco o torna imune a críticas. As controvérsias são comuns no contexto da investigação científica, já que novas evidências e novas interpretações podem surgir ao longo do tempo.
A mente estreita precisa vencer discussões a mente sábia prefere compreender o mundo! Ideias são insumos para a construção e aperfeiçoamento do conhecimento e da própria realidade que nos cerca. Como nos ensina Noam Chomsky, “não deveríamos estar buscando heróis, deveríamos estar buscando boas ideias”.
Por outro lado, não é apenas a comunidade acadêmica que tem interesse na divulgação de resultados de pesquisa.
Cada vez mais, o público em geral busca informações sobre a ciência, já que é dela que resultam processos, instrumentos e equipamentos que fazem parte da nossa vida.
No mundo contemporâno as pessoas percebem que o conhecimento científico é um diferencial para a compreensão do mundo e também como fator de progresso material quando aplicada por meios das profissões.
Em função da necessidade crescente de informações a respeito de ciência, uma série de veículos foi criada e vem sendo utilizada para levar o conhecimento às pessoas, em linguagem adequada e compreensível.
Essa tarefa tem se mostrado imensamente difícil, já que, cada vez mais, a ciência trabalha no terreno da especialização, exigindo conhecimentos muito específicos e complexos.
Documentários, revistas eletrônicas, blogs e vídeos são meios que a comunidade científica utiliza para aproximar o público do conhecimento produzido nos laboratórios e nos institutos de pesquisa.
Esse trabalho é a disseminação do conhecimento científico, com destaque para os congressos.
Congressos são reuniões de pessoas de uma mesma área de interesse para debater temas centrais, apresentar novas pesquisas, compartilhar conhecimentos e fazer networking, podendo ser acadêmicos e/ou corporativos.
Promover congressos na era da IA é de extrema importância, pois esses eventos atuam como catalisadores para o debate, o desenvolvimento ético e a aplicação prática dessa tecnologia disruptiva em todos os setores da sociedade.
A IA apresenta desafios e oportunidades únicas, e os congressos servem como um fórum essencial para lidar com essa complexidade.
Podemos citar os seguintes aspectos:
1. Antídoto contra a desumanização e o isolamento digital
Num mundo onde as interações são mediadas por algoritmos e telas, o congresso oferece o encontro humano genuíno. A IA pode facilitar a comunicação, mas não substitui:
a. Networking de alta qualidade: Os "coffee breaks", os jantares e as conversas informais nos corredores são onde surgem as parcerias mais promissoras e os insights mais criativos.
b. Linguagem não-verbal e confiança: O aperto de mão, o contato visual e a energia de uma sala cheia de pessoas criam laços de confiança que uma videoconferência não consegue replicar.
c. Serendipidade e descobertas acidentais: A IA tende a nos colocar em "bolhas" de conteúdo. Num congresso, você esbarra com uma palestra ou pessoa que não estava no seu algoritmo, abrindo portas inesperadas.
2. Contexto, nuances e crítica que a IA não tem
A IA é excelente para agregar e sintetizar informações existentes. Congressos são para criar e contextualizar e refletir sobre o novo.
a. Debates em tempo real: a discussão acalorada, a contra-argumentação imediata e a construção colaborativa de ideias são processos humanos complexos que a IA não realiza.
b. Nuances e experiência prática: um pesquisador pode partilhar não só os resultados de um estudo, mas as dores, os fracassos e os "insights" do processo – informações contextuais ricas que raramente são publicadas.
c. Pensamento crítico e contraintuitivo: congressos são palcos para ideias desafiadoras, que questionam o consenso e a própria direção do desenvolvimento da IA.
3. Democratização do Acesso e da Aplicação Prática
A IA pode ser uma tecnologia complexa e intimidadora. Congressos a tornam tangível.
a. Desmistificação: ver casos de uso reais, falar por exemplo, com engenheiros e usuários finais ajuda a quebrar barreiras e mostrar como a IA pode ser aplicada em diferentes setores.
b. Educação e capacitação hands-on: muitos congressos oferecem workshops e tutoriais onde os participantes podem "sujar as mãos", aprendendo a usar ferramentas de IA na prática, algo que a leitura passiva não proporciona.
c. Nivelamento de conhecimento: permite que tanto iniciantes quanto especialistas encontrem conteúdo no seu nível, acelerando a curva de aprendizado.
4. O "Termômetro" do Setor e Geração de Conteúdo inovador
A velocidade de inovação em IA é frenética. Congressos funcionam como um sensor vital do ecossistema.
a. Detecção de tendências: é no palco de um congresso que as próximas grandes tendências são anunciadas e debatidas pela primeira vez, antes mesmo de virarem artigos ou produtos.
b. Feedback direto para desenvolvedores: empresas e pesquisadores testam novas ideias e recebem reações imediatas da comunidade, moldando o futuro desenvolvimento.
c. Conteúdo original e inédito: muitas pesquisas e lançamentos são guardados para serem revelados em eventos importantes, tornando-os fontes únicas de inovação.
5. Discussão Ética, Regulatória e de Impacto Social
Esta é talvez uma das funções mais cruciais atualmente.
a. Fórum para o diálogo necessário: congressos reúnem seleto e diversificado público como por exemplo, tecnólogos, legisladores, filósofos, sociólogos e o público para debater os enormes desafios éticos, de privacidade, emprego e regulamentação que envolvem a IA.
b. Construção de consenso: são espaços onde se pode começar a construir os frameworks e princípios que guiarão o uso responsável da IA.
Na era da IA, o valor de um congresso transcende a uma fonte de informação para ser uma plataforma de humanização, contexto, crítica e conexão.
Os congressos são vitais não só para impulsionar o conhecimento e a inovação tecnológica, mas principalmente para moldarem as suas aplicações de forma responsável, ética e benéfica para a sociedade.
A IA pode (e deve) ser usada para otimizar os congressos – por exemplo, com apps personalizados, tradução em tempo real, análise de sentimentos do público ou matchmaking inteligente entre participantes. Mas o cerne do evento – a comunidade, o debate, a experiência compartilhada – torna-se um bem ainda mais escasso e valioso.
Promover um congresso hoje é criar o ecossistema essencial onde a inteligência artificial pode ser efetivamente compreendida, criticada, aplicada e guiada pela inteligência e sabedoria humanas.
As pessoas foram, são e continuarão a ser o ativo primordial de qualquer negócio e também protagonistas do desenvolvimento da ciência e do progresso material dos povos.
Notas:
[1] ZANELLA, L. C. H. Metodologia de pesquisa. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/
UFSC, 2013. Disponível em: http://arquivos.eadadm.ufsc.br/EaDADM/UAB_2014_2/Modulo_1/
Metodologia/material_didatico/Livro%20texto%20Metodologia%20da%20Pesquisa.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020.
[2] Circunstância em que os fatos objetivamente comprovados importam menos na formação da opinião pública do que o apelo à emoção ou a crenças pessoais.
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