“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem” (José Saramago)
São 7h da manhã, hora de acordar e tomar café, para mais um dia de trabalho; na outra ponta, a rotina do ano letivo escolar, em um ciclo repetitivo.
Sobre esta rotina, muitas vezes estressante é possível indagarmos: o trabalho tem algum propósito além da mera subsistência? Porque uma criança deve estudar?
Aproveitando o ensejo, tecemos outros questionamentos: estudar e trabalhar são um fim em si mesmo uma vez que “dignificam o homem” conforme jargão popular?
No plano espiritual, há ainda o seguinte embate: A fé sem obras é contrária à razão?
De modo insistente, retrucamos: todos esses elementos são apenas meios e obrigações protocolares, e, portanto, estáticos? Não há um proposito? Tais atos podem ser tidos como repetições cotidianas, como aquelas dos seres inanimados?
São muitos os questionamentos e teorias e poucas são as respostas e ações. Não vivemos mais na era das fábricas, da romantização do trabalho ininterrupto, mas sim uma nova era, a da imaginação, dos intangíveis, como uma força viva geradora de valor.
O trabalho e o estudo para ser alçado como “fim”, devem gerar valor e resultado social, como fonte de riquezas e qualidade de vida dos seus atores sociais.
A liberdade da iniciativa econômica, força motriz do capitalismo, traz à luz a oportunidade de gerar valor para a sociedade por meio da criação de negócios que inovam, empregam, capacitam e fomentam o desenvolvimento profissional e bem-estar dos seus colaboradores e terceirizados.
Uma sociedade livre deve ter os seus próprios mecanismos naturais de solidariedade e cooperação, com senso de responsabilidade social.
As nossas mazelas sociais evidenciam a necessidade de um capitalismo mais solidário e responsável tendo como atores principais os empreendedores, como forma de criar inserção social, dignidade e mercados, em um círculo virtuoso de crescimento e sustentação econômica e social.
Hodiernamente, com a proliferação das mídias sociais e maior conexão da vida social não há mais a dicotomia entre construir um mundo mais sustentável ou ter bons resultados financeira em uma empresa.
O mundo contemporâneo é um processo de resultado, acima de tudo, tendo como premissas a produção de riquezas, geração de valor e a tão almejada mobilidade social.
A jornada diária laboral tradicional e estática deve dar lugar a uma dinâmica e multidisciplinar, com o prestígio das habilidades individuais capazes de gerar valor, aqui entendida como a capacidade econômica futura. Não há mais o “emprego”. O verbo “trabalhar” foi substituído por “produzir” para a formação de uma sociedade economicamente ativa e duradoura.
O apreço ao conhecimento e a tecnologia devem prevalecer sobre o interesse na aquisição do diploma, como forma de minorar os efeitos deletérios do analfabetismo funcional.
No espectro econômico, Carl Menger argumentava que “o próprio homem é o começo e o fim de toda economia” [1]. Deus nos deu o livre-arbítrio, enquanto princípio eterno. Madre Tereza já dizia que as mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam.
Não basta a pureza dos conceitos e princípios das áreas de conhecimentos! Deve haver ação! obras! Retorno e compromisso para a sociedade, visando o seu progresso econômico, científico e cultural.
O ato de monopolizar o conhecimento sem ter um propósito é perda de tempo, censurável; aristocrático, antidemocrático, um comportamento eremita e arrogante que não se coaduna no mundo contemporâneo cada vez mais conectado.
Ações sociais como qualificar os mais pobres não é apenas por meio de diplomas e sim, por meio da integração a todas as áreas do conhecimento, que são infinitas, mormente as relacionadas a tecnologia, para colhermos os frutos de um ecossistema social e empreendedor composto por profissionais críticos, autônomos, livres e economicamente ativos conforme suas habilidades individuais.
Estamos na fase de romance do ESG [2], onde há belos discursos. A grande dificuldade será adiante, ou seja, diferenciar o que são apenas palavras de um compromisso efetivo de práticas sociais, mormente a de inserção e qualificação dos mais pobres aos meios de produção.
Os colaboradores precisam de protagonismo, reciclagem e conhecer os valores que norteiam suas organizações. Isso requer esclarecimento, treinamento, prática e acompanhamento por líderes, para aperfeiçoamento contínuo do capital humano.
Portanto, boas práticas, somente serão repetidas e maximizadas, em grande escala, por meio de exemplos e resultados habituais com sustentabilidade, seja de quem oferece os serviços de implementação de ESG, como também, do comando diretivo da empresa.
O estudo e o trabalho destituídos de propósito, a fé sem obras, são contraditórios à razão; a raciocinada leva-nos à ação, tão necessária, para nossa evolução enquanto profissionais e acima de tudo, como seres humanos preocupados com a inserção social no mercado, e na missão de erradicar a miséria por meio do desenvolvimento de habilidades, tendo como foco as individualidades.
Notas
[1] MENGER, Carl. A origem do dinheiro. Versão digital. Disponível em: http://rothbardbrasil.com/wp-content/uploads/2017/08/Sobre-A-Origem-Do-Dinheiro-Carl-Menger-1.pdf.
[2] Neste contexto, a ESG sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português) deve ser um componente obrigatório no âmbito corporativo, assim, como o freio ABS, tido como diferencial no passado e hoje, indispensável por sua importância. Não é apenas uma questão de marketing e sim de ação, por meio da consolidação de um processo de governança em todos os níveis da empresa, começando pelo conselho, com comitês e processos internos, até chegar ao RH e as terceirizadas. A letra “S” da sigla – Social – concernente a nossa temática, abrange todos os stakeholders corporativos: acionistas, clientes, colaboradores, comunidade, concorrência, equipe envolvida em um projeto, fornecedores, terceirizados, gestores, mídia, governo e sindicatos.
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