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Empreendendo vidas

Atualizado: 28 de jan. de 2022


“O jovem deve ter habilidade de mudar sua realidade” (Bill Drayton)

O EMPREENDEDORISMO como uma via de mobilidade SOCIAL


Diante de inúmeras políticas assistencialistas institucionalizadas que visam à erradicação da pobreza e à desigualdade social, o Brasil tem se caracterizado, ao longo dos anos, um Estado paternalista.


Na realidade brasileira, onde há infraestrutura precária em todas as necessidades humanas, a atuação estatal mostra-se insuficiente, por questões mais contundentes relacionadas à ética pública e social.


Muitas vezes, faltam qualidades como a virtude aos governantes e autoridades para elegerem as prioridades básicas e anseios da população, cujo erário público é constantemente usurpado em favor de privilégios para burocratas.


Denota-se, portanto, a necessidade de reformas não apenas de ordem tributária, previdenciária, mas, mormente a de natureza administrativa, para a afetação do erário público em favor dos pagadores de impostos. Não podemos ficar eternamente imersos em um sistema autofágico.


O caminho da subsistência, da prosperidade e desenvolvimento econômico dos povos deve ter mão dupla e não unidirecional via Estado, sob pena de perpetuação da miséria, indolência e da improdutividade.


Considerando o fato do Estado não ser fonte de riquezas, os governos não estão conseguindo mais fazer jus à carga social que lhes é imposta.


O descaso histórico do Estado brasileiro com a educação básica ultrapassa gerações, perpetua a pobreza e impede o jovem de alcançar o seu potencial e de ter um propósito de vida.


Neste contexto, passamos a analisar o empreendedorismo social como uma forma de se alcançar a mobilidade ou ascensão social.


A prática em comento teve como pioneiro o norte americano Bill Drayton, fundador da Ashoka [1], uma organização mundial sem fins lucrativos que atua no campo da inovação, trabalho e apoio aos empreendedores sociais, em 1980.


A proposta basicamente consiste na maximização do capital social de uma comunidade, bairro, cidade ou país, por meio de técnicas de gestão, inovação, criatividade e sustentabilidade.


Em suma, empreendedores sociais buscam transformar uma realidade, ampliar a participação política da sociedade e estendê-la aos cidadãos excluídos utilizando métodos geralmente presentes no cotidiano das empresas.


Assim sendo, este modelo tem o intuito de preencher essas lacunas e contribuir para a formação de um cidadão empreendedor, eficiente na gestão de negócios e globalmente integrado ao propiciar meios para seu desenvolvimento intelectual, profissional, artístico, esportivo e qualidade de vida, com o aporte de infraestrutura adequada para cada setor social.


Entretanto, o movimento social em tela, embora visionário, também deve ser realista e autossustentável, focado na localidade que está inserido, com o objetivo de se reverter ao bem estar social, sob pena de se tornar utópico e ineficiente.


A ideia do projeto em si é louvável, vez que delega à sociedade civil a busca pela transformação social, repelindo a tese retrógrada de que o Estado é único provedor de todas as necessidades vitais básicas do indivíduo.


Todavia, como toda ideia louvável incutida no exterior e disseminada em nosso país, este projeto social é vítima de todo tipo de deturpação.


Muitos dos que se dizem “empreendedores sociais” visam tão somente a interesses mesquinhos como benefícios fiscais e, ainda, temos os casos mais graves de lavagem de dinheiro, entre outras ilicitudes praticadas por organizações não governamentais meramente de fachada.


O legítimo empreendedor almeja resolver um problema da comunidade, podendo obter lucro de forma simultânea.


A falta de mobilidade social é um dos principais problemas contemporâneos relacionados à desigualdade social. Pode o empreendedorismo ser visto como um canal de mobilidade ou ascensão social?


A princípio, todas as iniciativas devem levar em consideração as peculiaridades de cada localidade e, em especial, o nível de desenvolvimento na qual se encontra a fim de potencializar os resultados.


Acreditamos que o esporte seja um importante fator de mobilidade social. Há experiência das escolinhas de futebol de grandes times esportivos do país instaladas em favelas e comunidades carentes que contribuem para o desenvolvimento da personalidade de crianças e adolescentes, dando-lhes técnicas de ofício para um mercado promissor.


Os ganhos são recíprocos, seja para a criança que adquire conhecimentos esportivos e cidadania, despertando-lhe para um mundo de oportunidades profissionais, ainda que não venha a ser um jogador de futebol profissional e, obviamente, aos franqueados e clubes desportivos, na busca de novos talentos.


As oficinas profissionais, como artesanato, de tecnologia e etc, são também bons exemplos de negócios sociais. O brasileiro, frente às dificuldades econômicas cíclicas do país é um empreendedor nato, utilizando de vários subterfúgios para aumentar a economia doméstica, além do próprio emprego formal.


A título de ilustração, podemos destacar a Rede Asta [2] como exemplo de negócio social e economia circular que impacta a vida de milhares de pessoas, desenvolvendo artesãs em empreendedoras.


A liberdade de ação dos empreendedores sociais, força motriz do capitalismo, traz à luz a oportunidade de criar valor para a sociedade por meio da criação de negócios que inovam, empregam, capacitam e fomentam o bem-estar social, por meio da reinserção dos indivíduos na sociedade de consumo, da qual estavam apartados.

Contudo, hodiernamente, em nosso país, os negócios sociais são embrionários e incipientes. Há a necessidade de um círculo virtuoso contínuo, que permita a transformação social, para além do tradicional ensino superior.


Somos protagonistas da nossa própria história! A liberdade econômica é o insumo de nossa governança e remédio para combater males como a pobreza e crises econômicas.


Há de enaltecer os negócios sociais em detrimento do modelo filantrópico estatal, ora incapaz de realizar as transformações sociais e econômicas, inclusivas e efetivas para o desenvolvimento das comunidades.


Até porque, os negócios sociais buscam criar valor, em vez de empregos, que se tornam uma consequência em vez de um objetivo.


Por que criam valor social? A resposta está na mudança do mindset; de desvalido e eterno subserviente do estado, a um cidadão economicamente ativo, tendo como premissas a sustentabilidade do bem comum social, por meio da educação/capacitação profissional, do desenvolvimento de negócios e mercados que gerem e mantenham consumidores, em um círculo virtuoso contínuo, favoráveis a transformação social, de modo realista.


A economia e o movimento do empreendedorismo social deve ser um hábito, enraizado em nossa cultura, sob o império da responsabilidade social, equiparado a uma lei não escrita, um direito consuetudinário, para um dia podemos concretizar a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, nos termos do artigo 3º, inciso I, da Constituição Federal.


Uma sociedade livre deve ter os seus próprios mecanismos naturais de solidariedade e cooperação, com senso de responsabilidade social.


As nossas mazelas sociais evidenciam a necessidade de um capitalismo mais solidário tendo como atores principais os empreendedores, por meio do desenvolvimento de negócios sociais como forma de criar inserção social, dignidade e mercados, em um círculo virtuoso de crescimento e sustentação econômica e social.


Com habitualidade e sustentabilidade, proporcionado pelas práticas de mercado, o empreendedorismo social pode sim ser um dos canais de mobilidade social, desde que os ganhos sejam recíprocos, de modo agregar um valor social ao seu público alvo e na localidade da execução do projeto social, potencializando-se a sua propagação com bons exemplos e resultados.

Notas:


[1] A Ashoka é uma organização sem fins lucrativos que lidera um movimento global para criar um mundo no qual todas e todos se reconheçam como agentes de transformação positiva na sociedade. Criada em 1980 na Índia e presente desde 1986 no Brasil, considerada a 5ª ONG de maior impacto social no mundo, segundo a publicação suíça NGO Advisor. Disponível em: https://www.ashoka.org/pt-br/country/brazil. Capturado em 31/032021.



[2] Rede Asta é um negócio social que atua na economia do feito à mão desenvolvendo artesãs em empreendedoras. O foco de negócio é a produção de acessórios, como bolsas e itens de decoração, por mulheres artesãs de baixa renda. Além de oferecer novas possibilidades às profissionais, a Rede Asta atua com o foco de erradicação da pobreza, promoção de capacitação, consumo e produção conscientes. Disponível em: https://www.redeasta.com.br/quem-somos. Capturado em 31/03/2021.

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