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Ciberespaço: ecossistema de prosperidade ou de alienação?



O Ciberespaço é um universo virtual de possibilidades, que precisa ser compreendido para que se traduza em benefícios sociais, prosperidade econômica e respeito aos direitos individuais.


“Avalie primeiro a experiência do cliente. Depois, preocupe-se com a tecnologia — não ao contrário.” (Steve Jobs)
"Todo o saber está na humanidade e a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas." “Ninguém sabe tudo, mas todos sabem alguma coisa” (Pierre Lévy)
“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.” (Louis Pasteur)
“O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado” (Albert Einstein)

Hodiernamente, falar sobre metaverso é como falar de internet ou ciberespaço na década de 1970. Parece algo extremamente futurista. Todavia, ainda que essa tecnologia pareça uma realidade distante, o metaverso está cada vez mais próximo do nosso cotidiano.


O surgimento de tecnologias de metaverso, incluindo social commerce, realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR), criptomoeda e tokens não fungíveis (NFTs), já movimentam a economia, impactando as estratégias das marcas. Por exemplo, várias empresas lançaram aplicativos AR e VR para ajudar os compradores a testar e comprar seus produtos. Essas tecnologias apresentam possibilidades expansivas para a criação de novas ofertas em espaços digitais e físicos à medida que o metaverso se torna realidade.


O metaverso faz parte deste ecossistema virtual representado pelo ciberespaço. Para fins didáticos, ciberespaço[1] pode ser compreendido como um espaço existente no mundo de comunicação em que não é necessária a presença física do homem para constituir a comunicação como fonte de relacionamento, dando ênfase ao ato da imaginação, necessária para a criação de uma imagem anônima, que terá comunhão com os demais.


É o espaço virtual para a comunicação que surge da interconexão das redes de dispositivos digitais interligados no planeta, incluindo seus documentos, programas e dados, portanto não se refere apenas à infraestrutura material da comunicação digital, mas também ao universo de informações que ela abriga. O conceito de ciberespaço, ao mesmo tempo, inclui os sujeitos e instituições que participam da interconectividade e o espaço que interliga pessoas, documentos e máquinas.


O ciberespaço representa a capacidade dos indivíduos de se relacionar criando redes que estão cada vez mais conectadas a um número maior de pontos, tornando-se as fontes de informação mais acessíveis. Porém, o ciberespaço se compreende não só como um ambiente de divulgação de informação, mas também de entretenimento e cultura, no qual os indivíduos podem expressar suas singularidades e, ao mesmo tempo, se relacionar criando novas e diversas pluralidades. Isto é possível porque o ciberespaço é considerado um espaço de acesso livre e descentralizado, onde todos os tipos de texto, voz, imagens, vídeos, etc. são traduzidos a uma única linguagem: a informática.


As características do ciberespaço são: a interatividade, multidisciplinariedade, dinamismo, pluralidade e liberdade na construção de conhecimento, cujas ferramentas são os vídeos, imagens e hipertextos, dentre outros. É no ciberespaço que assistimos a uma união perfeita entre informação, comunicação e tecnologia a que poderemos chamar de cibercultura.


Deste modo, no decorrer de sua evolução, o ciberespaço deixou de ser apenas um local público e se tornou preocupação estratégica, não só para empresas, mas também para governos.


No meio empresarial, a implantação de um sistema de informação é um importante diferencial competitivo no mercado. Isso porque, permite explorar dados com um olhar tanto individual como integrado a outros parâmetros externos. Com isso, a empresa poderá conhecer mais sobre si, seu público e, até mesmo, sua concorrência.


A internet influencia e muda tudo ao nosso redor, desde educação, saúde, interações governamentais, à comunicação e relações sociais como um todo. A web redefiniu a comunicação, e revolucionou como as empresas realizam negócios. Praticamente toda a comunicação mundial acontece no ciberespaço, e dentro dele somos consumidores, fornecedores, prestadores de serviços, comunicadores, ostentando, desta forma, uma cidadania global.

À medida que cada vez mais nos adaptamos e nos inserimos ao mundo digital, produzimos uma enorme quantidade de dados digitais, gerados a partir de interações pessoais e comerciais no ciberespaço. Explorar essas informações certamente abre inúmeras oportunidades para que organizações públicas e empresariais aumentem os lucros e operem de forma mais eficiente na atual era dos dados.


A Open Source Intelligence, OSINT, refere-se a todas as informações que podem ser encontradas publicamente, via internet, sem violar quaisquer leis de direitos autorais ou privacidade, como jornais, revistas científicas e comunição social. É a coleta, análise e o processamento de informações.


Sobre esta definição, uma ampla gama de fontes pode ser considerada parte de OSINT. Por exemplo, informações publicadas em sites de mídia social, fóruns de discussão, chats em grupo, basicamente qualquer informação que possa ser encontrada pesquisando online. Porém, a maioria dos recursos OSINT não pode ser encontrada usando mecanismos de buscas comuns, como o Google, pois muitos deles estão “escondidos” na deep e na dark web.


A título de ilustração, muitas empresas de e-commerce recomendam, por exemplo, novos produtos com base no histórico de pesquisa e navegação dos usuários (número de visualizações, tempo e etc). Com essas ferramentas é possível analisar grandes quantidades de dados sobre um usuário e automatizar recomendações de acordo com suas práticas ou hábitos, sem individualizá-lo.


A mudança é rapida, disruptiva e contínua; A troca dos termos; "redes sociais" por games (ou jogos em português) e "ciberespaço" por metaverso (palavra do momento) já são uma realidade, em decorrência das novas plataformas digitais e novas formas de comunicação.


As novas tecnologias e serviços de inteligência foram criados em decorrência deste novo ecossistema; a CTI (Cyber Threat Intelligence), significa inteligência de ameaças cibernéticas e basicamente é o conhecimento, as habilidades e as informações apoiadas na experiência sobre a ocorrência e avaliação de ameaças cibernéticas e físicas e de atores de ameaças que se destinam a ajudar a mitigar ataques potenciais e eventos prejudiciais que ocorrem no ciberespaço.


Ou seja, a CTI fornece meios para coletar, analisar e classificar todos os dados relacionados a um ataque cibernético, o invasor e os procedimentos usados, por isso quem for nomeado como o responsável para essa atividade, precisa criar com as empresas uma rede de proteção contra esses ataques, usando diversas fontes de informação para analisar os dados e ajudar a prevenir de maneira mais eficaz.


Por fim, é a área mais proativa de defesa da Cibersegurança onde informação altamente precisa e tempo de entrega são itens primordiais para que se possa proteger as empresas de um ataque cibernético.


A internet tem um potencial enorme, que não vem sendo corretamente explorado pela falta de conhecimento sobre sua arquitetura e fundações.


O Ciberespaço é um universo virtual de possibilidades, que precisa ser compreendido para que se traduza em benefícios sociais, prosperidade econômica e respeito aos direitos individuais.

Sob este contexto, a emenda constitucional n. 115[2] consagrou a inclusão da proteção de dados pessoais como direito fundamental do cidadão brasileiro. O Brasil segue agora diretrizes globais de governança. De um lado, temos a defesa da liberdade individual. Do outro, o dever de atuação estatal para garantir esse direito. Para o empresário significa o dever de se adequar, com mais urgência, à Lei Geral de Proteção de Dados[3].


Na outra ponta do iceberg, a interdisciplinariedade deixou de ser um artigo de luxo, tornando uma qualidade essencial, cada vez mais procurada no mercado, seja qual for o segmento profissional.


Assim sendo, para fins de ilustrar essa ideia, o advogado, o CEO, frente a nova dinâmica oferecida pelo ciberespaço, devem saber dialogar com a realidade do receptor (empresa), demandando o perfil multidisciplinar em áreas como a contabilidade, marketing, TI, segurança da informação, governança de dados, auditoria e compliance, dentre outras, bem como, o conhecimento de seus públicos (internos e stakeholders).


Noustros termos, buscar a interdisciplinariedade, ou seja, a aquisição de saberes em outra áreas de conhecimento diferentes da sua formação intelectual não significa incompetência! Reflete respeito a ciência, ao conhecimento e a transcendência. Isso demonstra que você se preocupa mais com o seu aprendizado, do que com o seu ego.


Partindo desta premissa, a opção por uso de tecnologias, por si só, não traz soluções soluções sociais e corporativas imediatas. As mudanças acontecem em razão de ações humanas.


As tecnologias são apenas o meio, as ferramentas que podem ser usadas para acelerar as mudanças.

Nessa toada, vale a pena transcrever o discurso[4] do CEO Tim Cook sobre a atuação da Apple no ciberspaço:


“A Apple é uma empresa de tecnologia, mas nunca esquecemos que os dispositivos que criamos são imaginados por mentes humanas, contruídos por mãos humanas e destinados a melhorar as vidas humanas", falou Cook à plateia. "Preocupo-me menos com computadores que pensam como pessoas e mais sobre pessoas que pensam como computadores. A tecnologia deve ser sobre o potencial humano. Deve ser sobre o otimismo", concluiu o CEO.

Por sua vez, a medicina, foi uma das áreas agraciada em face deste impacto de melhorias de desempenho, na relação da biônica com o corpo. Muitas próteses utilizam sensores que se conectam ao cérebro ou aos músculos, muitas construídas com o auxílio de impressoras 3D para sua personalização-individuação. Outro uso da biônica pode ser detectado na execução de exames complexos, como a endoscopia, cirurgias remotas e etc, salvando vidas e/ou garantindo melhor qualidade de vida aos pacientes.


A promoção do conhecimento foi consagrada pela revolução na produto de conteúdos, de licença livre e de forma colaborativa na web, como a oferecida pela enciclópedia multilingue Wikipedia, expandindo a capacidade intelectual e o debate sobre temas atuais.


Por outro lado, apenas o acesso à informação não significa maior participação política e social dos indivíduos. Todo o ciberespaço é um canal de interação para o entendimento do mundo. Contudo, para fazer parte de qualquer comunidade virtual, os usuários devem possuir competências específicas no uso das ferramentas tecnológicas digitais disponíveis e, ao mesmo tempo, compreender como funciona a construção dos discursos em modelos digitais.


No Brasil, o portal e-Cidadania[5] oferece uma área onde projetos que tramitam no Senado podem ser votados, incentivando ou desestimulando sua passagem e aprovação pelo votodos senadores ou permitindo a percepção da opinião pública sobre o tema. No mesmo portal, é possível enviar para a Ideia Legislativa projetos que, se receberem 20.000 (vinte mil) votos de apoios de outros cidadãos, serão levados para avaliação entre os senadores e podem ser transformados em projetos de lei.


Com escopo parecido, há o Programa Interlegis[6], parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Governo Federal, criado em 1999. Há também o e-Democracia[7], que é um canal direto do cidadão com o Poder Legislativo nos níveis municipal, estadual e federal.


Mais recente, há ainda o e-Gov[8], que reúne em um só lugar serviços disponíveis para o cidadão brasileiro e a possibilidade de acompanhar áreas do governo a partir de informações disponibilizadas pela administração pública.


Na esfera da sociedade civil, citamos o exemplo do Ranking dos políticos[9], cuja plataforma de dados e métricas disponibilizada no ciberespaço, avalia senadores e deputados federais em exercício, classificando-os do melhor para o pior, de acordo com os critérios como: combate aos privilégios, desperdício e corrupção no poder público, em favor da lisura na política e da probidade administrativa.


Contudo, cabe erigir a seguinte observação: essas iniciativas não viabilizam a democracia direta, até porque os projetos têm caráter consultivo, não influenciam diretamente nas decisões. Não há registros históricos de projeto político de democracia direta que incluísse todos os indivíduos de uma coletividade.


Essas iniciativas são uma resposta dos Estados nacionais e da prória sociedade civil à necessidade de adaptação e de criação de formas institucionalizadas de participação na democracia representativa com a utilização da internet, ampliando a participação de seus cidadãos.

Finalmente, temos a sociedade 5.0, a chamada “sociedade criativa”, “superinteligente”. São as máquinas impulsionando e apoiando o desenvolvimento humano. Cobra das instituições e dos governos condições de mobilidade e de acesso aos meios de comunicação (infraestrutura) para a percepção de novos espaços de trabalho. Sociedade na qual ações governamentais são interligadas pelas inovações tecnológicas, como o setor produtivo, com o uso da automação e com máquinas interligadas, com sistemas inteligentes que gerenciam todo o processo da vida coletiva (vide exemplo das smart cities).


Levando em consideração estes aspectos, o ciberespaço é um universo de oportunidades, tendo a tecnologia como matéria prima para transformar vidas e criar prosperidade, cujos pressupostos são: combater os monopólios de expressão pública, dando voz aos diferentes atores e comunidades, enquanto fonte de riquezas (“todo o saber está na humanidade”), valorizando a construção de instrumentos de filtragem e de navegação, otimizando o acesso à informação, de modo a favorecer o integral desenvolvimento da personalidade humana, a qualidade de vida, sem barreiras espaciais e ideológicas de regimes autoritários.


Como nos ensina Chaplin[10], “mais do que máquinas precisamos de humanidade!!” O ciberespaço e suas benesses tecnológicas não são um “admirável mundo novo” de fantasias e entretenimento com jogos e projeções imersivas que levam a dispersão e a alienação. É um ecossistema onde a tecnologia é utilizada apenas como meio e não um fim, em si mesmo, como forma de salvar vidas, além de insumo para nosso progresso econômico, científico, cultural e como meio de participação política.


Notas


[1] O prefixo cyber foi utilizado pela primeira vez, com o sentido atual, na palavra cybernetics. Ela foi empregada em 1948 pelo matemático Norbert Wiener. O pesquisador cunhou esse termo ao publicar o livro Cybernetics: or the control and communication in the animal and the machine.


[2] BRASIL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 115, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2022. Altera a Constituição Federal para incluir a proteção de dados pessoais entre os direitos e garantias fundamentais e para fixar a competência privativa da União para legislar sobre proteção e tratamento de dados pessoais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc115.htm. Capturado em 29/08/22.


[3] BRASIL. LEI Nº 13.853, DE 8 DE JULHO DE 2019. Altera a Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, para dispor sobre a proteção de dados pessoais e para criar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art1. Capturado em 29/08/22.


[4] SATURNO, Ares. Discurso de ódio não tem vez nas plataformas da Apple, diz Tim Cook. Publicado em 4/12/18. Portal Canaltech. Disponível em: https://canaltech.com.br/comportamento/discurso-de-odio-nao-tem-vez-nas-plataformas-da-apple-diz-tim-cook-128243/ Capturado em: 27/08/22.


[5] Para maiores informações, acessar: https://www12.senado.leg.br/ecidadania.


[6] Para maiores informações, acessar: https://www12.senado.leg.br/interlegis.


[7] Para maiores informações, acessar: https://edemocracia.camara.leg.br/.


[8] Para maiores informações, acessar: https://sso.acesso.gov.br/login?client_id=contas.acesso.gov.br&authorization_id=182e9c58032.


[9] Para maiores informações, acessar: https://www.politicos.org.br/Sobre.


[10] Filmografia citada: O Grande Ditador: 1940, EUA, Charles Chaplin.



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